MORRO VELHO - Encontros

Esse blog tem o objetivo de trazer para os dias de hoje as vivências e recordações dos bons tempos do Grupo Morro Velho. Aqui, os ex-integrantes e todos os amigos daqueles inesquecíveis anos, poderão postar fotos, relatos, piadas e tudo que possa tornar vivas essas recordações. É um espaço que pretende também ser uma extensão dos nossos encontros. Um "Buteco virtual" onde poderemos exercitar nossa grande amizade.

AMIGOS INCRÍVEIS

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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Um papo sobre música e futebol.


Hoje, antes mesmo do sol esquentar o asfalto, atravessei o viaduto Santa Tereza ouvindo Milton, o disco Minas, de 1975 e a faixa era Conversando no Bar, um clássico das Gerais. A sensação foi de muita nostalgia. Afinal, a música e a paisagem combinavam com as minhas memórias. Logo, lembrei-me desse espaço, quer dizer, desse ciberespaço reservado para as nossas conversas e lembranças. A nossa mesa de bar virtual, um pouco sem graça, afinal, faltam dois essenciais ingredientes: nós e a cerveja. Mas como diz a música: nada de novo existe neste planeta que não se fale aqui na mesa de bar, sempre vale trocar palavras quando a alma não é pequena.Abordado por esse sentimento nostálgico, pensei fazer uma breve viagem musical pelas minhas lembranças, memórias essas que têm muito a ver com a de vocês. Vasculhar os armários do tempo para recompor algumas músicas que marcaram a minha caminhada até a essa mesa virtual de bar. Discutir e relembrar com vocês os sons que marcaram a nossa juventude.É sempre muito bom conhecer de que barro somos feitos. Apesar de estar convencido de que somos o que fomos e o que não fomos. Chega de filosofia. Pensei em voltar no ano da música que ouvia. Lembrei-me que esse disco do Milton foi lançado em um ano que marcou muito as minhas canelas e os meus ouvidos: 1975, ano em que cheguei ao IAPI.

Naquela época me apaixonei definitivamente por música e futebol. Com os meus quatorze anos ainda sonhava em disputar a Copa do Mundo, coisas que, como vocês presenciaram, não aconteceu. Nas peladas que aconteciam todos os dias, as três da tarde, na quadra de frente à minha janela, no edifício Cinco, só tinha craque, e o meu futebol estava mais para série C do que para esquadra celeste. Nesse caso, me reservava assistir, jogar dupla no campinho de terra e ouvir muita música. Jogar bola e ouvir música requer muito treino. Acho que tenho me saído melhor na segunda opção. Fora das quadras, a melhor coisa a fazer era ouvir música na casa do meu primo Paulo, no edifício Dois. O Tio dele, o Luiz, era um grande colecionador e um exímio especialista do que existia de melhor na música naqueles tempos. Passava os dias a decorar todos os discos dos Beatles. Revolver e o Álbum Branco eram os mais disputados pela radiola, uma mistura de rádio AM e toca-discos. Era muito bacana, você podia ouvir os vinis sem precisar levantar para trocá-los. Outros LPs acompanhavam a disputa como All Thing Must Pass, o primeiro disco solo do George Harrinson, Sweet Lord era um verdadeiro mantra, lembro-me de ter ficado fascinado com a capa do disco. Ouvia também as músicas da década de sessenta do Bob Dylan, um cara que ainda é um liquidificador belíssimo de poesia e melodia. O primeiro disco dos Secos e Molhados, aquele com as cabeças cortadas sobre a mesa, para mim, até hoje, um dos grandes discos da música brasileira. Mas era na rádio Cultura, Ritmos da Noite, onde os meus ouvidos viviam verdadeiras descobertas sonoras. Além de Chico e Caetano, o disco ao vivo com os dois em Salvador é realmente uma prova da efervescência rítmica e poética que a MPB vivia naquela época, começavam a chegar aos meus neurônios os primeiros acordes do rock progressivo britânico do Genesis e do Pink Floyd com The dark side of the Moon, um disco fabuloso. Ficava impressionado com a capacidade daqueles caras produzirem som. Mas ficava perplexo e paralisado, também, ao ver a sinfônica celeste entrar em campo.

Perdoem-me os atleticanos, mas o time de 75 do Cruzeiro era uma máquina de compor sucessos: Raul, Nelinho, Morais, Darci Menezes e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos e Eduardo; Roberto Batata, Palhinha e Joãozinho, sem falar do Jairzinho. Artistas de encherem os olhos dos mais distraídos passantes. Voltemos às músicas.

Acho que foram nesses dias idos que descobri o valor da poesia e da arte, a força que tem o coração nas escolhas de nossos caminhos. Se penso nos barros que me formaram, acho que um disco tem real importância para nossa história: Clube Da Esquina, lançado em 72 e que tem aqueles dois meninos na capa. Fantástico. Um disco que não dá para falar ou descrever simplesmente em uma discografia, é preciso contar as notas e as histórias de cada faixa. Mas isso fica para um outro papo, uma outra cerveja. Resta lembrar aqueles dias saudosos de 1975, que eu andava pelo campinho de terra carregando uma bola dente-de-leite em uma das mãos e uma coletânea de discos na outra. Meus cabelos começavam a crescer e os meus sonhos também. Ainda não tinha muitos amigos no IAPI, meus primos e alguns conhecidos no Cinco, como o Bolão e Jordão, colegas das primeiras horas e que depois seguiram os seus destinos. Mas começava a viver uma nova época, muitas novidades descortinavam diante dos meus olhos.Tem uma coisa que vocês não sabem, foi nesse ano que dois colegas do Honorina, fazendo referência aos meus dois grandes dentes, gritaram-me de um dos cantos da quadra: Esquilinho!!!. Acho que o apelido pegou. Bons tempos de 1975 guardados em lembranças. Tempos que traziam uma inocência poética, de sonhos que enchiam meus ouvidos e roxeavam as minhas canelas. Para findar um papo, que levaria grades e grades de uma boa cerveja, poesia. Um valioso e belo trecho de um poema de Álvaro de Campos (FP) que fala um pouco do que somos:

Quando fui, quando não fui, tudo isso sou.

Quando quis, quando não quis, tudo isso me forma.

Quando amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

Ouçam sempre músicas.

Um brinde a todos. A gente se vê. Aylton.

2 comentários:

  1. Aylton,

    O seu texto, por si só, quase dispensa comentários pela maneira como foi escrito. Gostei muito. Ele remete a um tempo onde os sonhos tinham um tamanho enorme dentro das nossas vidas. Vivi também tudo o que você citou aqui e tive a sorte de encontrar todos vocês pelo caminho. Juntos vivemos uma fase inesquecível, compartilhando momentos que jamais fugirão das nossas memórias. A música e a amizade foram a combinação perfeita no decorrer dos anos de nossa adolescência e juventude. Sempre fica uma imensa saudade e a vontade de estar mais próximo, mas sei como a vida nos leva de roldão pelos caminhos da sobrevivência. Aqui realmente não tem tanta graça quanto estar frente a frente com toda a turma, mas é, com toda certeza, um espaço que demonstra a vontade de que tudo o que vivemos continue sempre muito vivo dentro de nós.

    Abração, amigo.
    Parabéns pelo texto.
    Fred.

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